Ensaio Exploratório sobre Simbolismo #1

Todas as coisas manifestadas na matéria são representações de ideias mais sutis e incorpóreas

Ensaio Exploratório sobre Simbolismo #1

Nos tempos em que vivemos, estes sombrios por natureza (Kali-yuga), a ciência deixou de ser um complemento à nossa evolução, passou de ser uma das esferas da vida terrena e tornou-se lei absoluta, ou um deus que não deve ser contrariado, pois fora de seu escopo de atuação e verdades, tudo não passa de “asneira“ em sua total insignificância e não deve ser levado em consideração. Porém, já tivemos períodos em que a humanidade viveu um tempo de versada magia, outros de devoção religiosa e outros de profundo entedimento da vida e do universo inteligível em sua forma de ser.

É fácil observar que as leis que regem a matéria definem que mais cedo ou mas tarde haverá degradação dos materiais, deteriorização e por fim, sua transformação (mudança de forma) para um amontoado de átomos organizados de forma diferente.

Observando a natureza cíclica dos períodos, é visível o entendimento que chegaríamos em um estado onde ‘‘esqueceríamos do que esquecemos’’ e começaríamos a nos habituar com tal estado, até que entendessemos esse tipo de comportamento como ‘‘normal’’, e quando falo desse tal ‘‘normal’’ que tantos almejam em desfrutar, façamos mensão as palavras ditas por Jiddu Krishnamurti:

“Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.”

Dado esse breve contexto, gostaria de lhe convidar para fazer algumas pequenas reflexões a cerca de conhecimentos milenares de várias civilizações, até que cheguemos em nossa atual e moderna tecnologia, e ao final verás que tudo isso são pistas para um plano inacessível, se pretendes usar como ferramenta suas mentes concretas e corpo físico.

Os símbolos como portais de acesso à outras camadas do entendimento

Observe atentamente um livro qualquer, perceba que as letras formadas no papel, são apenas pigmentos de tinta em um jogo de contraste com a cor do papel e a cor da tinta, dispostos de uma maneira à qual possa representar formas conhecidas por você, que são as letras. Mas são apenas as representações dessas letras, que juntas e organizadas de uma certa forma, representam uma mensagem escrita, que conta alguma história ou passa alguma informação. Mas você só consegue entende-las porque conhece-as, sabe quais são as formas que elas deveriam plasmar, entende que as mesmas são parte de uma ideia chamada: ‘‘Alfabeto’’, que é composta por vários outros símbolos em várias formas também diferentes.

Agora imagine um caso hipotético, onde uma pessoa que morou em uma ilha deserta a vida inteira e nunca teve contato com um livro, essa pessoa, sem saber do que se trata, observa o objeto e logo tem suas primeiras conclusões: Manchas na cor preta espalhadas aleatoriamente em um material de cor amarelada. Isso seria uma percepção totalmente diferente da sua, que ao passar os olhos, já faria a leitura automaticamente do título do livro, sem mesmo precisar pensar e organizar todos os símbolos antes.

Partindo desse exemplo básico, é perceptível que as palavras em um livro, ou gravuras, são apenas símbolos que conectam ideias mais sutis, guardadas em uma camada imaterial. Vamos falar um pouco a respeito disso adiante.

Plano das ideias, onde as ideias existem antes da forma

Para conseguirmos adentrar nesse assunto, vamos recordar sobre o que Platão falava. Trata-se de um plano sutil onde nasce a matriz de tudo que existirá no mundo físico. As coisas seriam primeiro pensadas em uma mente divina, e depois ganharia uma forma no mundo manifestado.

Então se levarmos em consideração o exemplo anterior que fala do livro, primeiro existiu a ideia livro e só depois existiu o livro propriamente dito manifestado na matéria. E ainda que nunca tivesse existido um livro na terra, ainda assim, já existia a ideia livro nesse plano das ideias, esperando uma oportunidade para se manifestar. Esse mesmo pensamento pode ser reproduzido com tudo que existe no mundo manifesto, até mesmo o ser humano, primeiro existiu a ideia ‘homem‘ pensada em uma mente divina, e só depois surgiu o homem manifestado na matéria, com forma e animação. Porém vale ressaltar, que uma vez que a ideai deixa seu plano sutil, a mesma decai na forma e recebe uma representação distorcida de sua ideia original, com defeitos. Pensando assim, é verídico entender que existe uma ideia de um homem ideal nos planos sutis, sem defeitos, e essa é a nossa busca terrena, moldar-se assim como molda o escutor uma escutura de mármore para que fique o mais próximo possível da ideia geratriz.

Com isso é possível concluir que a criação é pegar uma dessas ideias nesse plano mais sutil e trazer aqui para o mundo físico, assim como fizeram vários seres humanos que passaram pela terra, como: Pitágoras, Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Eistein, Tesla… todas essas pessoas foram capazes de acessar esse mundo sutil e materializar ideias que ainda repousavam sem forma, até serem convocadas ao reino.

Os símbolos como explicação do abstrato

Os símbolos são poderosos, pois possuem capacidade de carregar consigo o inacessível aos mortais, as emanações das esferas superiores, e dizer muito com pouco, em camadas criprografadas de entendimento, onde o mesmo símbolo pode passar mensagens diferentes para pessoas diferentes com alcances diferentes.

Observando o Egito, é claro perceber sua carga simbólica, de um povo que possuia o conhecimento do poder do símbolo, e conseguiam acessos inimagináveis comparados à nossa moderna civilização. Na camada que nos é cabível explanar nesse texto superficial, vamos analisar um símbolo Egípcio chamado Ankh (A cruz Ansata).

Representava a vida, em alguns casos era utilizado para representar a vida após a morte e o eterno retorno. Em outras interpretações, a alça que existe acima da cruz sugere um cordão entrelaçado com as duas pontas opostas que representam o princípio feminino e masculino, união dos opostos ou Osiris e Isis. E em camadas mais sutis que não é compatível com o formato deste texto, o símbolo segue com entendimentos do abstrato que não seria possível representar de forma escrita. Perceba que foi necessário escrever um parágrafo inteiro, apenas para tocar na superfície do significado real de um único símbolo, esse mesmo que é preciso apenas um caractere para esbolçar o mundo sensível. Isso coloca à prova o pensamento de que povos antigos eram ditos como “primitivos“. Seus símbolos falam muito mais do que ousamos se quer balbuciar com toda nossa tecnologia “avançada“.

É dito pelas antigas tradições que quando um conhecimento não é acessível para nossa mente concreta, o estudante deve-se voltar para o símbolo, para ter acessos à planos mais elevados. Mesmo sem nunca ter visto o símbolo ou saber do que se trata, se colocado à meditação de forma honesta, o simbólo fornecerá um caminho de entendimento para emanações que estão além desse plano.

Com o tempo a civilização humana foi perdendo as capacidades do poder simbólico e fomos decaindo em transmissão de conhecimento, cada vez mais pobre em relação à forma de comunicação. Pós hieróglifos, as línguas antigas como o senzar e sanscrito eram a forma de comunicação de conhecimentos velados e se comunicavam com anos luz à frente das nossas linguas atuais qunado se diz respeito à eficácia na transmissão da mensagem, porém com um certo decaimento da ideia arquétipica, ou geracional, pois, é sabido que quando é necessário escrever algum ensinamento, o mesmo já perdeu seu sentido gerador, no qual só era absorvido via tradição oral ou através de rituais para que a ideia sutil pudesse fluir para a matéria.

Símbolos na vida cotidiana

Talvez você nunca parou para observar que os números que usamos para fazer operações matemáticas são um conjunto de 10 símbolos( 0 à 9). Esse símbolos representam algo abstrato que é o númeoro em si, uma ideia abstrata que não existe no plano material.

Para exemplificar tal coisa, imagine o “número 3“, logo virá na cabeça o símbolo = 3. Porém, esta é apenas uma representação da ideia abstrata de número 3. O número 3 não está de fato no plano material, é uma ideia mais sutil. Veja como o número 3 pode ser representado em vários símbolos conectando a mesma ideia.

Os computadores por exemplo, usam dois símbolos (0 e 1) para organizar e fazer possível tudo que você consome de forma digital, seja assistindo um vídeo, olhando uma imagem ou lendo esse texto neste momento. Se trata da representação binária, onde é possível representar qualquer número com a ideia de:

  • Ligado, Desligado
  • Verdadeiro, Falso
  • 1 ou 0
  • Sim e Não

Pode ser basicamente qualquer par de ideias que diferem uma da outra, e assim é possível representar também o número 3 como vimos acima. E para mostrar que a ideia é simplesmente abstrata, veja que é possível representar o número 3 apenas com 2 lampdas acesas.

E tudo isso trata-se de um símbolo para representar a base 2 na matemática, onde cada lampada é ligada a uma potência equivalente, e podemos representar o número que quisermos apenas usando a ideai de 0 e 1, verdadeiro e falso e etc.

Número 15 em representação binária

Até com nossas mãos somos capazes de invocar símbolos e expressar ideias como essa dos números em que estamos falando. Você sabia que é possível contar até 31 com uma única mão? Pois é, trata-se da representação unária.

E com duas mãos é possível alcançar até 1000. Veja o vídeo abaixo representando.

Se você tiver habilidade suficiente nos pés, é possível contar até 1.048.575. Tudo se resume ao SÍMBOLO.

Símbolos de arquétipos

A representação do símbolo também pode decair em seu entendimento com o passar do tempo, mediante a busca da civilização que usa. Podemos citar a deusa grega Têmis, que na mitologia grega é a personificação da justiça. A deusa é representada com os olhos vendados e com uma balança na mão. Os olhos vendados simbolizam a imparcialidade e transmitem a ideia de que diante da lei, todos são iguais. A balança simboliza a temperança e equilíbrio nos julgamentos, a espada representa o poder, que pode ser tanto destrutivo como construtivo, a separação entre o bem e o mal.

E hoje em dia a maioria das pessoas liga a ideia da balança a um escritório de advocacia por exemplo, a justiça em seu caráter denso e concreto, se afastando da ideia original que a deusa busca personificar para que através de sua imagem possamos ter um vislumbre da justiça, a justiça como causa primeira, sem intermediações, e quando falamos desses arquétipicos é comum haver o distanciamento da fonte, e assim os símbolos decaem com o tempo e conduta da civilização, e por muitas vezes perdem o significado ou são substituidos por outros mais superficiais.

E podemos citar muitos outros símbolos que foram perdendo seu significado com o passar do tempo, como a Suástica que originalmente é um símbolo sagrado em várias culturas antigas, incluindo a hindu e a budista. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, foi adotada pelo regime nazista como emblema do partido e, desde então, tornou-se amplamente associada ao nazismo, perdendo seu significado original em muitas partes do mundo.

A Cruz Celta historicamente associada à cultura celta e usada como símbolo religioso ou cultural. No entanto, devido à apropriação por grupos extremistas, como o Ku Klux Klan nos Estados Unidos, a cruz celta acabou por adquirir conotações negativas para muitas pessoas.

E isso vai muito adiante com vários outros símbolos, como a coruja que era associada à deusa Atena e representava sabedoria e conhecimento. No entanto, ao longo do tempo, especialmente na cultura popular, a coruja foi muitas vezes associada a símbolos de superstição ou má sorte.

Mundo inteligível

Vivemos uma experiência onde as coisas não existem da forma que existem por um acaso, um movimento aleatório, o mundo não é caos e sim cosmos, existe uma ordem, uma inteligência suprema (Nous) que rege todas as coisas. A filósofa Russa cofundadora da sociedade Teosófica, Helena Blavatsky dizia que: Se os acontecimentos do mundo fossem um total acaso, poderíamos jogar alguns materiais para cima, como: madeira, marfim e arames, e ao cair, existiria a possibilidade destes formarem um piano, tocando uma música de Bach. Sabemos que tal feito não é possível, pois existe uma lógica e um mistério em todas as formas e manifestações. Essa ideia fica explícita quando mergulhamos para entender do que nosso corpo é formado e como funciona. É possível ver todo um universo em ebulição, cheio de vida, lógica, e ideias sutis.

Na esquerda podemos ver uma celula cerebral. Possuimos milhões e milhões em um vasto micro cosmo. A direita é possível ver o universo em um emaranhado de estrelas e galáxias representando o macro cosmo. Com esse tipo de comparação percebemos que: “O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima.“ (Caibalion).

Pense em nossos orgãos, que são feitos de tecidos, que por sua vez são formados por várias células que contêm uma vasta rede de estruturas intrincadas e sistemas especializados que permitem o funcionamento do corpo humano. Cada uma dessas células contém um núcleo, que abriga o material genético, que carrega informações sobre nossos ancestrais, armazenando habilidades herdadas de um passado distante.

Agora mergulhe mais fundo e perceba que tudo isso em nosso corpo é formado por atómos, que em sua formação essencial são pura energia, onde existem forças positivias (prótons), forças negativas (elétrons) e forças neutras (neutrons) que fazem o balanço dessa natureza misteriosa. Sendo assim, somos feitos de energia, mas o que vivenciamos como matéria no dia a dia, é muito mais “real“ não é mesmo? Podemos bater a mão em uma mesa e sentir que é sólida, que não é possível ultrapassa-la, mas a sua natureza é energia, energia essa que não conseguimos ver a olho nu, nem conseguimos pegar, e o que não vemos e não pegamos para a maioria das pessoas é irreal, logo utilizando-se desse caminho lógico, poderíamos dizer que não somos reais? Graças ao princípio físico da impenetrabilidade da matéria que diz que dois corpos distintos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo é possível pegar nas coisas manifestas, se não passaríamos a mão por dentro de si mesmo como fantasmas de desenho animado. E agora? Onde está a ‘realidade‘?

O que seria toda essa complexidade citada acima, se não que tudo que existe é uma representação simbólica de uma ideia sutil. Nós somos um símbolo de algo maior. Pode ser uma árvore, um animal, um objeto, simplesmente toda manifestação é representação simbólica de um segredo. E essa manifestação nos dá pistas de que sua origem não é daqui. Quando por exemplo: se esvai e deixa a sua forma, pois sente saudade de sua forma ideal, e volta para o plano das ideias, onde existe em perfeição. Assim como o corpo humano que se deteriora e se desfaz, ou essa cadeira que cansou de ser uma cadeira imperfeita e prefere se juntar a sua idea original de volta ao plano sutil, até que algum marceneiro invoque sua forma ao mundo manifestado novamente.


Agora chego ao cerne de minha elocubração, motivo pelo qual me deparei em extase por saber que não sabia, e sentir felicidade pura por ter oportunidade de refletir sobre o assunto e assim iniciar uma investigação. Minha inquietação é descobrir se:

É possível encontrar alguma ideia em sua forma primeira na natureza manifestada, ou tudo é símbolo?

Todo o texto até agora é contexto para os pensamentos a partir daqui, e queira-me permitir introduzir como contexto adicional, um conceito de tradições milenares, para que o entendimento dessa indagação central seja possĩvel para os que não tiveram contato com essa idei. Discorrerei de forma superficial neste primeiro momento.

A Constituição Setenária do Homem

Apesar deste conhecimento ter sido trazido ao nosso tempo moderno principalmente através de Helena Petrovna Blavatsky, este assunto tem raizes mais antigas, um vez que egípcios e hinduístas já estudavam sobre os 7 corpos. E este número também é simbólico e guarda um forte poder, observe que são 7 dias na semana, 7 cores no arco-iris, as notas musicais também são 7 e muitas outras coisas que podemos observar no mundo exotérico e esotérico.

Os sete corpos são divididos em duas partes: a Tríade e o quaternário. A Tríade é a parte superior e imortal do homem, e constituem o individuo. Já o quaternário Inferior forma a nossa personalidade.

Começando de baixo para cima, onde o mais baixo é mais denso e quanto mais alto mais sutil, temos:

  • Sthula sharira - O corpo físico, a parte mais densa do homem
  • Prana - O corpo vital ou energético
  • Linga sharira - O corpo astral, ligado às emoções
  • Kama-rupa - Corpo Mental, pensamentos concretos
  • Manas - Mente pura, ligada às virtudes, a alma humana ou Mahat, o elo entre o quaternário e a tríade.
  • Budhi - A alma divina, consciência do profundo, ligado a intuição.
  • Atman - A essência divina não-individualizada, sem forma nem corpo, invisível e incogniscĩvel, a mônada divina.

Após uma apresentação breve e rasa do conceito, apenas para fins de conhecimento, sigamos para formular uma ideia ainda ofuscada. Nesta sessão do artigo, peço ao leitor que encare os movimentos a seguir não como fatos ou verdades, mas como formas mentais deste que vos fala.

Após refletir sobre a questão e buscar por formas primordiais na natureza manifestada, me veio à mente que tudo que está plasmado como matéria, provém de uma origem metafĩsica, assim sendo, podendo apenas assumir formas simbólicas enquanto no reino. Porém se isso acontece, e o mundo em que vivemos é inteligível, há de haver um momento de forja dessas ideias, um exato momento onde a ideia sutil passa por uma transição, transformando-se e adaptando-se ao mundo físico, até ser traduzida em matéria e guardando seus “metadados” em uma forma comum aos nossos sentidos e realidade.

Neste momento me limito em utilizar a representação dos sete corpos para discorrer sobre o tema, embora acredito que um sistema mais denso como a árvore da vida apresentada na cultura judaíca, pudesse fornecer mais pistas. Deixaremos a óptica desse segundo sistema para os ensaios posteriores.

Investigando no Quaternário

Utilizando-se dessa constituição setenária e observando os princĩpios para tentar sondar o momento de forja, é irracional pensar que isso aconteceria no corpo fĩsico (Sthula sharira), pois este se encontra na forma mais densa da materia, onde tudo já está manifesto.

Subindo para o próximo degrau, temos o Prana. Porém, apesar de se tratar de um corpo mais sutil que o anterior, acredito que aqui neste ponto, as ideias já se encontram plasmadas, visto que este se coloca na posição de gerir os recursos do nosso corpo e vida.

Passando para o próximo degrau, encontramos o nosso corpo astral (Linga sharira), camada muito sutil, porém acredito que por se tratar de um corpo ligado à emoções, percebemos que várias delas são passageiras, ilusórias e voláteis. Se sub-caracterizarmos essa nossa parte sutil em sensações, emoções e sentimentos, sendo este ultimo o mais elevado das categorias, ainda sim, são plasmações de arquétipos poderosos como: Amor, Justiça, Temperança… e estes arquétipos são formas primeiras que não poderiam estar nessa camada que apesar de sutil, não está apta para guardar algo tão divino, apenas possui uma referência dependendo da evolução do indivíduo.

Pois bem, já estamos no quarto dos 7 corpos, uma camada poderosa e mais sutil do que todas as outras anteriores, capaz de criar campos mentais e dar vida a pensamentos, capaz de levar o ser humano a sua própria loucura ou a feitos maravilhosos se bem utilizado, porém é com cautela que observo que assim como algumas emoções voláteis, também temos pensamentos que se desfazem, que são por um momento e deixam de ser, e como é dito no clássico indiano Bhagavad-gītā: “O que é e deixa de ser, é porque nunca foi de verdade“. E mesmo estando falando de uma camada tão alta, não posso achar que é aqui que acontece a forja do imaterial na manifestação imperfeita, pois estamos falando de ideias em sua forma primeira, e esse tipo de ideia não passa, ela permanece. Já nossa mente concreta (Kama-rupa), se apaixona por ideias impermanentes, e logo depois muda essa ideia, hoje pensamos uma coisa, amanhã pensamos outra, é instável, o que estamos procurando é algo estável, logo, podemos partir para uma camada superior, chegando emfim na tríade.

Investigação na Tríade

Nestas camadas superiores, é ousadia discorrer com segurança ou acreditando que se sabe ao menos o suficiente para exaurir tal dúvida. Mas seguimos de forma investigativa e desacoplada da ação, farei disso uma busca pela verdade de forma a caminhar até onde consigo.

Buscamos agora no quinto corpo, de onde temos altura com ar rarefeito para nossos pensamentos concretos (Manas), aqui paira a alma humana com vários aspectos permanentes, com acesso mais próximos das ideias primeiras e eternas. Nesta camada, acredito ainda que não podemos encontrar esse decodificador de ideias em plasmação, pois apesar de ser o primeiro corpo da tríade onde temos a nossa mente pura, esta ainda faz parte de um campo mental, ao qual é compartilhado com o Kama-rupa, ou seja, nossa menta concreta, e é por isso que conseguimos ter pequenos vislumbres do infinito através deste campo mental, por exemplo: Quando vemos um por do sol e ficamos boquiabertos com a Beleza, e ficamos perplexos nos perguntando de onde vem essa Beleza? Ela está expressa no por do sol, mas no fundo sabemos que ela vem de uma origem mais sutil, mai divina, e nos faz ter a sensação de saudade, de voltar para isso, mas só por um instante, logo somos capturados pelos sentidos novamente. Logo acredito que ainda não é aqui, já que faz parte de um campo compartilhado entre mente concreta e mente pura. Precisamos subir mais.

Chegamos ao sexto corpo, e seguiremos na forma que me é possível discorrer sobre: A intuição (Budhi).

Neste contexto, a intuição é descrita como uma via de conhecimento direto, ou melhor falando, um conhecimento obtido sem instruções prévias, sem um curso ou ensinamento direcionado. É um estado onde a pessoa que consegue acessar, não consegue explicar o porque, pois as palavras são coisas da vida terrena e corpórea, não é possível explicar o imaterial com ferramentas do mundo material.

Para tentar fazer uma analogia nessa parte da investigação, gostaria de dar como exemplo o matemático indiano chamado: Srinivāsa Rāmānujan, este que é conhecido por ser inspirado pelos Deuses. Apesar de sua falta de formação formal, adquiriu um conhecimento através de uma via direta ou intuitiva, conseguia entender ideias sutis enquanto fazia suas orações, quando alcançava estágios elevados da consciência, mesmo sem nunca ter frequentado uma facudade. Posteriormente fez grandes contribuições em sua área na universidade de Cambridge. Essa história é retratada no filme: O homem que viu o infinito (2015).

E finalmente analisando esta maneira intuitiva de ver o infinito, obtive pistas de que talvez estivesse aqui nessa camada, a forja das ideias sutis em matéria sutil, e daí em diante se densificando até descer ao plano físico e manifestar-se. E assim como Rāmānujan, outros seres humanos que passaram pela história foram capazes de desvelar ideias imateriais e trazer para o plano concreto, simplesmente através de uma intuição, sem saber explicar muito bem de onde veio. Assim como sinfonias compostas por grandes músicos que marcaram a história, que quando escutamos, parecem sons vindos do próprio mundo divino.

Após refletir sobre esse tópico com afinco, estou até certo ponto, convencido de que provavelmente a resposta para a minha investigação está em algum lugar nessa esfera de estado da consciência. Porém, rapidamente é distorcida assim que atinge o mundo material, se pudesse fazer uma analogia para que fosse possível representar de forma mais comum aos nossos sentidos, seria o fenômeno físico conhecido como refração da luz.

Quando a luz passa de um meio para outro com índices de refração diferentes, como do ar para a água, ocorre uma mudança na velocidade e na direção da luz, causando a distorção aparente do objeto, como o canudo, quando visto através da superfície da água.

Assim deve ser como as ideias primeiras são forjadas em matéria, através deste corpo budhico, que ao vir de uma camada superior e passar por esse corpo, logo tem sua ideia original distorcida, se densificando de forma defeituosa em relação a sua ideia original e plasmando-se no mundo manifestado.

Considerações Finais

Após minha investigação, entendo que minhas ferramentas foram insuficientes para a tarefa, apesar de “desconfiar“ dos mecanismos e como funcionam, ainda é muito pobre a forma e os métodos utilizados, e quase que se transformam em opiniões apenas. Porém sigo na investigação com vigor, em busca da verdade de forma honesta, e entendendo ao menos que tudo que vemos aqui em nosso mundo é símbolo, e respondendo minha indagação a qual gerou esse texto: Não existem ideias primeiras no mundo manifestado.