A chuva cai secretamente

A chuva cai secretamente enquanto a tarde segue, enquanto a vida segue em sua ilusão temporal. Tudo parece igual, é quase imperceptivel, mas esse cheiro e esse som cria uma atmosfera, conta um segredo de forma explícita e ao mesmo tempo só para quem quiser escutar, de forma oculta. Ondas astrais se espalham através do éter sutilmente, alertando a sensibilidade deles e mantendo-se silênciosa aos sentidos. A fina camada se torna densa, encobre e convida para outro lugar longe daqui e nos torna onipresentes, ao mesmo tempo que existe no reino, assim como além dele.
Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.
A conscência fica momentaneamente consciente, o sono impotente está em trégua, agora, tudo que era, deixar de ser, estado transitório, um passo em direção ao que é atemporal, distante da forma que distorce e se parece com coisas. Lembranças voláteis tomam o campo mental, em ambas as esferas, baixo e cima, agora é possível criar, como um deus. Os acessos estão abertos, mas na maioria das vezes é possível só contemplar através dessa linha tênue, é como o alívio ao acordar de um pesadelo, porém dentro de uma segunda camada de sonho.
A sepração some, e agora todas as coisas são, ao mesmo tempo, assim faz mais sentido para a intuição, o entendimento é alterado para um patamar mais alto, as partes se completam e possuem registros orfãos que se conectam entre si. Enquanto isso a chuva cai secretamente, molhando o chão e materializando poças que refletem o céu, trazendo à tona a correspondência hermética. Uma parte mínima do véu de Maya é descoberto, e dá pra ver do outro lado, mesmo sendo uma parte pequena se sabe que se trata do infinito.
A chuva cai secretamente, com alguns estrondos ao fundo, porém agora mais leve. A densa camada multi-plano vai se desfazendo, o portal vai se fechando e aos poucos a visita termina, o fio de conexão traz de volta para a experiência terrena e os sentidos mais uma vez ativados, começam o jogo de enganar.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Agora o segredo se vai, a consciência mais uma vez adormece em seu casulo, as conexões se fecham, resta tão somente um registro da mente, fugaz e errante, que, ao confundir-se com o manifesto, fragmenta-se toda sua essência, fazendo-se voltar novamente para o dual. Porém a busca se firma incessante, nessa escura caverna, neste templo sagrado, sustentado por puros ministros do amor, não deixeis apagar a chama!